quarta-feira, 18 de março de 2009

Epifania

É entardecer num quase agora.
Manhã e corações despertos.
A raiva e ansiedade tomando a hora,
Quimera absoluta diante de sentidos repletos.

Nas mãos eu trago duas cores.
Sigo o Samsara na direção contrária
Vivi e carrego no peito poucos amores
E na boca uma língua que já morta é imaginária.

Então almas dançam ainda enormes,
Num jardim de cores disformes
Diante do arco-íris ácido.

O céu amarelo abraça nuvens minguantes
Ele me extingue quaisquer desejos falantes
E o único que me liberta é o garoto plácido.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Sorumbática

"Dos teus seios acídulos, amargos,
Fluem capros aromas e os tetargos,
Os ópios de um luar tuberculoso..."
Cruz e Souza
Torpor no olhar indômito
Umidas maçãs num rosto pálido
Garras misturadas com vômitos
Toque nada superficial, todo cálido.

Ferido Coração disforme
Devaneio louco e lento
Pouco sonho num colo enorme
Sangue solto espalhado pelo vento

Ideia concreta na sombria avareza
Menor sofreguidão que destreza
E olhos de águia ao norte

Mania de solidão complacente
Se enrola como doida serpente
E os seus homens entrega à morte.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Pérfido

"Mas! quem fez a minha
língua tão pérfida?"
Arthur Rimbaud.
Nobre hora da manhã que avança
Invade o crepúsculo inerte
Aparece sorrateira como quem dança
E as carcaças de homens ela
inverte
Sombra estática de luz galante
Mórbida alvorada hostil.
Vozes de boca de bueiro falante
Madrugada quente perdida no mundo
vil.
Ele sonha e se enrola na manta
de desejos, medos e ilusões.
Ele morde a boca que cedo o acalenta
Ele dorme perdido em suas
visões.
Dorme, sim, pequeno. Esquece.
Amanhã é outro dia
Por mim, guarde sua grande prece.