sexta-feira, 3 de abril de 2009

Cosmos

Viagem Transcendental
direto ao âmago acudido.
Caminho desenvolvido em espiral.
Carrego comigo um velho ruído
que ecoa no vácuo visceral
a música sublime do amor caído.

Mágoas esquerdas no céu.
Um ambiente de transtorno morto.
Em meio ao lamaçal em véu
contorno as delícias de um destino torto,
numa busca incessante ao verdadeiro réu;
dono do meu verso em lágrimas absorto.

Já na manhã gritante
De cores nômades de sangue e luz
Adoro o som dançante
de sonho - e à esperança faço jus
Quando rompe a vida diante
do amargo e do pus.

Na escuridão dissonante de hordas
Escondo a saliva acostumada
ao toque como um violão de cordas.
Se sente como virgem amada
quando o gozo ultrapassa as bordas
E invade a sonolenta alvorada.

Já tarde ela se enrola - e dorme.
Com o semblante aliviado
no leito roxo e disforme
Entre o amor e o desatinado.
Já tarde ela ri - e dorme.
Feliz por tê-lo ao seu lado.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Epifania

É entardecer num quase agora.
Manhã e corações despertos.
A raiva e ansiedade tomando a hora,
Quimera absoluta diante de sentidos repletos.

Nas mãos eu trago duas cores.
Sigo o Samsara na direção contrária
Vivi e carrego no peito poucos amores
E na boca uma língua que já morta é imaginária.

Então almas dançam ainda enormes,
Num jardim de cores disformes
Diante do arco-íris ácido.

O céu amarelo abraça nuvens minguantes
Ele me extingue quaisquer desejos falantes
E o único que me liberta é o garoto plácido.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Sorumbática

"Dos teus seios acídulos, amargos,
Fluem capros aromas e os tetargos,
Os ópios de um luar tuberculoso..."
Cruz e Souza
Torpor no olhar indômito
Umidas maçãs num rosto pálido
Garras misturadas com vômitos
Toque nada superficial, todo cálido.

Ferido Coração disforme
Devaneio louco e lento
Pouco sonho num colo enorme
Sangue solto espalhado pelo vento

Ideia concreta na sombria avareza
Menor sofreguidão que destreza
E olhos de águia ao norte

Mania de solidão complacente
Se enrola como doida serpente
E os seus homens entrega à morte.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Pérfido

"Mas! quem fez a minha
língua tão pérfida?"
Arthur Rimbaud.
Nobre hora da manhã que avança
Invade o crepúsculo inerte
Aparece sorrateira como quem dança
E as carcaças de homens ela
inverte
Sombra estática de luz galante
Mórbida alvorada hostil.
Vozes de boca de bueiro falante
Madrugada quente perdida no mundo
vil.
Ele sonha e se enrola na manta
de desejos, medos e ilusões.
Ele morde a boca que cedo o acalenta
Ele dorme perdido em suas
visões.
Dorme, sim, pequeno. Esquece.
Amanhã é outro dia
Por mim, guarde sua grande prece.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Sopros

Àqueles que fazem de si
homens pobres por acaso
Digo que vim, vi e venci
E que sigo por simples descaso
Diante de todos os medos escondidos
Entre sonhos, céus e esquecidos.

Há aqueles outros, porém,
que gritam verdades absolutas
E trazem consigo também
Vitórias de tardias lutas.
Nesses deve-se sim acreditar
Porque deles provêm sopros que fazem continuar

E perante todos os sete céus
E em cima de todos os onze infernos passados
Devemos rasgar os véus
E seguir num compasso ritmado
Um blues que de leve avança
Junto com toda alma que dança...

24-10-08

sábado, 6 de dezembro de 2008

Nota de um chacal

Sobre as horas, não há o que dizer.
Porque se vive e nelas passam sem perceber
os sussurros sem nome,
as carícias e a fome.
e nelas também se esquece
Qualquer corpo que sozinho já não mais se aquece.

Perante os moinhos coloridos
Adejam homens sem libido
E jogam-se nos abismos fundos
À procura, quem sabe, de outros mundos
Talvez melhores, talvez mais quente
Mundos solitários e de perspectivas abrangentes.

Então quando as horas se vão
Largam-se culpas de mão em mão
e o que outrora fora vivo
agora é simples pedaço esquecido
E como carne podre, endurece
Num lugar onde quqlquer coisa se esquece
E o chacal no deserto infame
Alimenta-se do corpo exangue
Sem uivar, sem escolta
Porque a hora que vai, também volta.


12-11-08

sábado, 15 de novembro de 2008

Destino

Sobrepõem-se sangue e sonhos diante de toda uma eternidade.
E existem olhos chorados e olhos do porvir.
Amanhece, é fato, mas poucos sabem. E quanto menos admiradores, melhor.
Porque o brilho esgota quando muitos o cobiçam.
Ninguém nasce sem chorar, mas tem gente que morre sem nascer.
Banham-se, então, no silêncio da escuridão para sentir uma aurora de cores que só os cegos para a realidade vêem.
Os loucos acordam sem dormir, e você? Habitante de um labirinto que te leva a um lugar nenhum.
O verbo anima-se e sofre e sangra e segue. Enlouquece pelo medo de nada ser.
Ou você mata ou deixa-se morrer.
Devore tudo, sem mastigar!
Busque o equilíbrio, mas não corra.
Ninguém escapa ao pó.

16-10-07

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Sugar lips

eixo central desfigurado.
Olhos cansados.
Uma sombra interna que brilha
e reflete sonhos e medos.

Inquietação silenciosa
E um sorriso - quase tão doce quanto açúcar -
que até tenta disfarçar
a insegurança genuína.

Um pouco de loucura
porque sem ela não há poeta.
E lirismo, e niilismo
E, quem sabe, até amor.

Só sei que escondido nele
Está o segredo que me derrama algum bálsamo interior
E quando a noite desvairada rompe
Isso era tudo que eu queria ter
ainda....

29-08-08

sábado, 4 de outubro de 2008

Sons coloridos

Ondas sonoras alucinógenas.
Um risco;
Perigo colorido nas sílabas soltas
sob o infinito sobreposto.
Junção de orgias auditivas.
Balbúrdia em preto e branco e
uma bomba que explode arco-íris lentos e leves e cintilantes.
Sobressaem-se em azul e roxo as sombras da aurora
e o Sol multi-colorido do sertão invade os poros.
Luzes corpulentas de neon ruborizado
com um pouco de ruído,
com um pouco de loucura!
Palavras que inspiram tintas
e retiram o fôlego sôfrego e cinza
num grito
O céu se pinta de vermelho
E num sonho ele passa a não mais existir...

24-09-08

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Exageros

Ultra romantismo nada poético.
Restos de sorte num pedaço de céu.
Semblantes desnorteados,
salpicados com olhos de cético.

Passos rápidos e equivocados
- uns tortos, pouco mortos -
Pisam nas poças de água amanhecida
que refletem nuvens e rostos amarelados.

Barulho e combustível.
Chamas escondidas pelo suor.
Bocas brandas, entreabertas.
Sonho riscado e inaudível.

Há segredos e lágrimas, por fim.
Gnomos Roxos. Esperança Verde.
Há um pouco de muito nas ruas entregues.
Há muito de pouco em mim.